Eu não escrevo
sou muda pelos dedos
escorro na folha branca
só mancho
vazo palavras pelas pernas
lambuzo-me
saio
CAM-BA-LE-AN-TE
Sou o murmúrio do artesão.
Eu não escrevo
sou muda pelos dedos
escorro na folha branca
só mancho
vazo palavras pelas pernas
lambuzo-me
saio
CAM-BA-LE-AN-TE
Sou o murmúrio do artesão.
Se não tivesse tanto sono
escreveria a epopeia da mulher pós-moderna
Foto: Walzer A piece by Pina Bausch; ph: Ulli Weiss
Em carne sobre carne
meu cabelo cativeiro
cortina tua cara.
Curto espetáculo.
– Não pude ser sincera seria como dizer que os meninos não podem apreender o Sol E como eles não poderiam os Filhos de Deus Feitos à imagem e semelhança com suas peles brancas mãos pesadas sorrisos constantes cabelos claros corpos pesados Sobre o ventre da humanidade em contraponto da vontade flagelando as paredes louvando a si próprios amaldiçoando a espúria nudez inassimilável da mulher Crianças-Sóis nunca encarando a si mesmos jamais a si mesmos – Não pude ser sincera e negar a força do encontro deixei que me queimasse e sorri enquanto ardia.
[Não quero
“casar com você”
quero
amar com você
até partir(mos)]
Não pratico conclusões
um corte súbito
meio equívoco
sem vontade (ou fugaz)
Agora a história é outra
não me acabo
volto antes
(tomo muita água)
até o fim
é o pensamento certeiro
vagando além da frase
Não sei a hora
Não preciso saber a hora.
A hora não faz café,
a hora não toma banho,
não manda e-mail ou bebe vinho.
A hora não gosta de vinho.
A hora pede.
A hora anseia
(quase nunca quer).
A hora gosta do agora,
só pra mandar.
A hora é conceitual
não consensual
(a hora não tem nada de sensual).
A hora não é a mesma,
dura o que se deixa.
A hora não sabe, mas quero mais que ela.
A hora não tem culpa, mas não pertenço a ela.
A hora só faz a gente se perder.
Se eu tivesse uma foto,
do avesso do encontro
do agora absorto
da loucura do ontem
das voltas do mundo
Uma única foto
tão punctuosa
de doer o espectador
no umbigo do presente
Uma captura
do cativeiro de emoções
das palavras mudas,
desfazeria-me
na efemeridade do toque
acordei antes da hora
Sol nascia
já não era Tempo
pra pensar no ontem
que me-não-se-acaba
queriam-me insone
fui só sonhos
queriam-me sono
despertei alto
e aguda
pássaro na janela
desafinado
excitado
Fêmea
Gata manhosa
no cio
de dezembro a dezembro
quero colo
menina sem nexo
avante